quinta-feira, 24 de março de 2011

A CRISE POLÍTICA

Já podia ter escrito alguma coisa. Ontem não escrevi porque queria pôr as ideias em ordem. Mas antes, podia. Mas não quis. Quis ver em que acabava. Quem me conhece, sabe que me pronunciei, mas não fui muito expansivo. Quis ver no que ia dar o filme. E deu no que sugere a expressão que escolhi para título.

Comecemos pelo princípio. Sócrates anuncia, em fins de Fevereiro, que não vão ser, seguramente, necessárias mais medidas, após as impostas pelo PEC III, apoiado mais uma vez pelo PSD. Uns dias depois, apresenta triunfalmente a execução orçamental de Fevereiro, que dá um saldo positivo, pela primeira vez em muito tempo.

Depois, a tomada de posse do PR, com um discurso corrosivo de Cavaco Silva. "Há limites para os sacrifícios que se devem impôr aos portugueses" foi o soundbyte melhor captado, assim como um apelo à participação de 11 (ou 12, não sei bem...) de Março, dos mais jovens. A acrescentar a isto, uma moção de censura que demorou a ser rejeitada pelos outros partidos da oposição.

Sócrates teve uma reunião no conselho europeu uns dias depois. Vem com más notícias. Tem que tomar novas medidas. Apresenta-as na sexta feira de manhã, pelo Ministro das Finanças. Foi a declaração política "mais desastrosa de sempre do hemisfério norte" segundo um responsável do PS. A coisa estava mais feia. Sócrates não avisa Cavaco nem PPC que vai criar um novo pacote de austeridade, que pelo menos já estava préconcebido há 2 semanas, mais ou menos. Não se faz nada assim em cima do joelho.

PPC não achou piada à brincadeira de Sócrates. Não considero que tenha sido por mal. Bem pelo contrário, acho que Sócrates pensou que estava a defender os interesses do país e agiu deste modo, convencido que estava a agir bem. Neste ponto concordo com Marcelo Rebelo de Sousa. Mas PPC achou que seria o limite. E não viabilizou este PEC, o IV desta legislatura. Sócrates, em consonância com uma entrevista dada a Ana Lourenço na SIC Notícias uma semana antes da rejeição do PEC, dramatiza o discurso e demite-se. Não adiantou de nada pedir um consenso com o PSD. Não foi suficiente.

Queria ver até que ponto PPC se mantinha coerente e não viabilizava o PEC IV. Já o tinha ameaçado noutros documentos. Mas depois viabilizou. Desta vez não, desta vez abriu mesmo uma crise política.

Foi corajoso, o homem. Criar uma crise e proporcionar a Sócrates uma vitimização pode ter sido o princípio do fim do homem. Não interessa a PPC ganhar as eleições. Interessa ganhar com um consenso que lhe permita trabalhar. Interessa que PPC ganhe, sem necessitar do PS. Porque se precisar do PS, Sócrates é vingativo e não vai dar-lhe esse gosto. E vai torturá-lo na oposição. Por outro lado, interessa que PPC não mande mais tiros nos pés durante a campanha. Aumenta ou não impostos, sobe ou nao reformas, enfim, parece que as coisas não estão assim tão claras pelos lados da São Caetano à Lapa.

Por outro lado, tem que lidar com os barões do partido dele. Santana Lopes já veio fazer das suas, e criticar o líder. Parece que as palavras dele aplicam-se a toda a gente, menos para ele. E ele quer criar um movimento político novo. Não sei onde vai dar. Mas que faz falta algo como o Bloco do lado direito do parlamento lá isso falta.

Enquanto isto, Portugal vai desenvolvendo a sua vida normal. Precisa de ir aos mercados e as taxas de juro estão mais altas que nunca. E cada vez há mais vozes a pedir a intervenção do FMI.

E depois a absurda lei eleitoral que vigora em Portugal. Qual seria a dificuldade de votar dentro de 3 semanas? Para quê esperar dois meses? Que eficiência é esta? Portugal e o mundo não param! Para quê tanto tempo de vazio?

Para o próximo governo segue uma lista de sugestões. Ainda hoje parece que a dívida pública como por milagre subiu cerca de 4 ou 5%, à custa das empresas públicas que estão insolventes há anos. A TAP dá sistemáticos prejuízos e a RTP também. Existem inúmeras empresas públicas que já deviam ter sido eliminadas ou vendidas. Existem inúmeros lugares criados para os boys do PS. Qualquer partido que vai para o poder ambiciona esses lugares. Será bom que o próximo governo os elimine. De vez.

Na minha opinião nada será como dantes daqui em diante, Nem existirão mais governos minoritários. A começar pelo próximo (o que é muito provável). Nem que a vaca tussa, terão de existir coligações. Somos um país que precisa de ser governado em maioria, para assegurar estabilidade. Além disso, será necessário um acordo de estabilidade legislativa durante os 4 anos para que se façam as reformas importantes. Um acordo a 2 ou a 3 ou a quantos quiserem. Desde que seja um acordo válido. O que será difícil com Sócrates. Mas sem Sócrates seria facilmente possível.

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