Marco Silva merece, na minha opinião, o prémio de "Injustiçado do Ano".
Ao contrário daquilo que todos fazem crer, o plantel do Sporting era, dos três candidatos ao título, o mais fraco. Não adianta ter 11 bons jogadores (que nem isso tinha), precisava de ter jogadores que pudessem suprimir momentos menos bons dos "titulares" e também nem isso tinha (com excepção de, por vezes, Carlos Mané).
Comecemos pelo princípio. Patrício é um bom GR, mas treme como varas verdes em momentos mais difíceis, desde que não meta penalties, que essa é a sua especialidade. Mas Cedric, Miguel Lopes e Paulo Oliveira servem para o Campeonato Nacional, e pouco mais. Maurício foi muito bem vendido à Lazio, e Tobias tem muito que crescer. Sobra Ewerton. Jonathan e Jefferson são dois bons defesas esquerdos e, caso um deles saia, o outro ocupará o seu lugar sem prejuízo da equipa.
William é um bom jogador. Seria muito bom no 4x3x3 de Lopetegui. No 4x2x3x1 de Marco Silva precisa de fazer outras coisas que ainda não consegue fazer. Mas com tempo aprende. Adrien é bom para o campeonato português. João Mário idem. André Martins nem pensar. Sobra? Rosell e Slavchev só mesmo para fazer número. Os miúdos da B precisavam de ganhar ritmo.
Carrillo e Nani são os titulares indiscutíveis. Capel já não faz a diferença. Sobra Mané. Que conseguiu algumas vezes fazer qualquer coisa de novo. Mas não muito. É jovem, mas tem que começar a dar corda aos sapatos.
Slimani e Montero são bons jogadores. Como o Sporting deste ano joga de maneira diferente do do ano passado, Slimani este ano encaixou que nem uma luva. O ano passado era Montero. Tanaka é mesmo para encher. E ainda assim marcou uns golos importantes.
Ou seja, nem de perto nem de longe poderiam competir com o Benfica de Jesus (com toda aquele tempo seguido de trabalho) nem de Lopetegui (com a qualidade individual dos jogadores). Ora, Marco Silva teve de potenciar tudo aquilo que tinha e ao máximo.
Para mim, a grande diferença face ao ano anterior é que Jardim, com todas as suas qualidades e defeitos, fez 30 jogos no campeonato, mais 2 jogos na Taça de Portugal e mais 6 (no máximo) na Taça da Liga. Não teve Champions, nem Liga Europa. Marco Silva fez 34 jogos no campeonato, mais 6 jogos (máximo) na Taça da Liga, mais os jogos todos da Taça de Portugal (penso que são 8) e mais 6 jogos na Champions e 2 jogos na Liga Europa. São, assim, 38 jogos em 2013/2014 contra 54 jogos em 2014/2015. São muito mais jogos, menos tempo de descanso e muito menos tempo de preparação. E isso faz toda a diferença.
Por isso, Marco Silva não merecia que um presidente ansioso por protagonismo lhe fosse tirando o tapete várias vezes. E não merecia que uma imprensa sedenta de especulações quisesse que ele dissesse algo que não disse, e muitas vezes não queria sequer insinuar. Neste momento, fala-se (como é possível?) se continua ou não no Sporting. Eu, se fosse presidente do Porto, caso ele saísse, no mesmo dia era treinador do Porto. É demasiado bom treinador e demasiado correcto para ser deixado por aí ou ser tratado de forma indecente.
A final da Taça do passado domingo (tal como o jogo com o Schalke 04, ou os jogos de Alvalade com Benfica e Porto onde encostou os adversários às cordas e só não ganhou por manifesta infelicidade) que ganhou e ganhou muito bem, mesmo jogando 75 minutos em inferioridade numérica, e mostrou que do banco e no balneário também se pode mexer com o jogo (ao contrário do que fez Lopetegui o ano todo no Dragão), é a última mostra da qualidade e da competência de um treinador cuja postura ao longo de todo o ano, mesmo perante todas as adversidades, internas e externas, não posso deixar de admirar.
Para mim, se tivesse que escolher o treinador do ano, seria Marco Silva. E explico porque não seria nem Jorge Jesus nem Rui Vitória. O primeiro, porque o Benfica não convenceu e essencialmente ganhou o campeonato aproveitando os deslizes dos outros (o ano passado tinha sido de forma categorica), e o segundo, porque pode desenvolver o seu trabalho sem a pressão de um grande. Marco Silva fez o seu trabalho com muito menos que os outros e conseguiu mais que um deles. E isso é de se tirar o chapéu.
Sem comentários:
Enviar um comentário