Em Portugal, Sócrates é único entre a classe política. É combativo. Um lutador. E de fibra.
A sua entrevista hoje é um murro na mesa (mesmo para estremecer a mesa) na situação em que nos encontramos. Um Seguro que não mostra ser alternativa e um Governo que faz tudo ao contrário do que prometeu e tudo ao contrário do que lhe sugerem. Ou seja, temos um mal, mas o remédio não parece sequer ter a capacidade de atenuar o problema, quanto mais curá-lo.
Sócrates tem carisma. E adora política. E é de fibra. E vem para causar estragos. Como disse vem para "tomar a palavra" e não usá-la. Ou seja, vem para definitivamente contar a sua história e não ficar mais em Paris ou noutro sítio qualquer a viver a sua vida. E hoje demonstrou isso.
Deu uma sova em Cavaco Silva como nunca se viu. Foi duro. Desabafou, se me permitem o termo, tudo o que tinha a desabafar sobre o que entendia da conduta do chefe de Estado que, como sabemos, nunca foi um homem do carácter que diz ter (lembram-se do remoque que deu a Nogueira, em 1995?). E sabemos que eles não se gramam nadinha um ao outro. Deu remoques a Seguro (parece que ninguém deu por nada, mas o primeiro foi direitinho a ele quando disse que só existia uma narrativa e que mais nada existia) e deu dois toques a Passos quando disse que o Governo não tem direcção política e que quando fez debates com ele não tinha dito que queria empobrecer o país.
Depois deu a sua versão, em muitas situações deturpada, da história. Continua com a versão do PEC IV e de que isso seria suficiente para tirar o país da crise, que as PPP's foram boas e que foram bem negociadas, que a culpa era da crise internacional, deu os números dele, as Escolas, as Barragens, enfim, foi mais de uma hora ao mais alto nível do animal político com um "jeitaço" para a TV que Sócrates demonstrou ser.
Concordo com Sousa Tavares, na SIC Notícias, quando diz que, depois de hoje, nada vai ser como dantes. Às páginas tantas, no meio da entrevista dei por mim a comentar que ele vinha para dar um murro na mesa e que vinha para comandar a oposição (porque Seguro ou nada é a mesma coisa, não há nada por onde se pegue, não porque não tenha razão, mas porque não sabe comunicar nem dizer o que quer - Sócrates é bem diferente, com meia dúzia de frases diz ao que vem e o que quer... e hoje isso viu-se!...). E é isso mesmo. Sócrates não vem para deixar tudo na mesma, vem mesmo para mudar as coisas. E não vai para Belém. Ele quer mesmo ir para S. Bento. É só Seguro falhar (ele não vai precipitar as coisas, porque não precisa, mas se vir uma oportunidade não dá hipótese). E não há aparelho partidário que valha.
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