quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

NO PRINCÍPIO...

No princípio foram as contas. Sempre as contas. Os ideólogos que diziam que o dinheiro aparece sempre tiveram a maior surpresa das suas vidas, quando o vil metal que ajuda a fazer girar o mundo deixou de ser tão barato como costumava ser e se tornou escasso. Tão escasso que ninguém queria emprestar.

Depois de casa arrombada, trancas à porta, já diz o povo. Foi necessário então tratar de arranjar maneira de o dinheiro vir na mesma. Então veio uma tríade, ou troika, ou triunvirato, que o povo é sempre bom a arranjar nomes, que tratou de arranjar o dinheiro, face a uma série de condições que, de 3 em 3 meses eram avaliadas. E depois da nota mínima alcançada, a recompensa, o dinheirinho, fresquinho.

A propósito, penso que os militares poderão reconhecer esta história: o meu pai recebeu o salário dele com cerca de 4 dias de atraso, por alturas pré-troika. Nos dias imediatamente anteriores o Governo tinha feito a última incursão nos mercados e pedido emprestado dinheiro a taxas exorbitantes. Serviram para isso. Imagino os militares com responsabilidades na banca ou a necessitar mesmo desse dinheiro. Devem ter tremido muito nesses dias.

Já todos conhecemos a história. Relembremos então os pormenores. No princípio, o défice era de 4,6% e nem mais um euro. Depois, com o memorando eram 5,9% e não se falava mais nisso. E, em junho, já eram 7,7%. Pois. Uma coisa é uma coisa, e outra coisa é outra coisa. Estamos a falar de mais metade face ao previsto inicialmente e mais um terço face àquilo que se previu em Maio. Então faça-se um corte nos salários dos funcionários públicos.

Alto que o Tribunal Constitucional não deixa! Pudera, também foi atingido. Então aumentem-se os impostos e faça-se uma sobretaxa no IRS. Pronto. E vamos aumentando o combate à fraude. Aumentam-se os impostos, cortam-se salários, aperta-se mais (e talvez a mais) a economia. Porquê? Já todos se esqueceram? As contas dos outros foram mal feitas!!! E são eles (os mesmos, as mesmas caras!) que querem vir para o poleiro outra vez.

E depois toca a baixar o défice. E os juros da dívida. E abençoada ajuda estrangeira. Aqui Seguro tinha razão e Passos fez mal em tê-lo deixado descolar. Poderia perfeitamente ter mandado Portas às malvas e apoiado Seguro. Teríamos governo para muitos e bons anos. Primeiro com uns e depois com outros. Uma das razões pelas quais eu gostava de Seguro é que foi capaz de antever o que se iria passar na Europa. Mais tempo (óbvio, claro!) com um pouco mais de auxílio do BCE. Só não acertou na mutualização da dívida (que vai ter de arrancar) e na colagem excessiva a Hollande. Mas falhou quando não encostou os Socratistas a uma parede. Foi o seu ponto fraco, o passado.

E depois tivemos a maior roda de independentes em ministérios. Rezam as crónicas que todos fizeram bons trabalhos. E todos prestam provas no estrangeiro e são reconhecidos. Santos Pereira na OCDE e Vitor Gaspar (primo de Louçã, ironicamente!) no FMI. Em Portugal não percebiam nada do assunto. Saiba-se lá porquê. A propósito, era bom ler o livro de Santos Pereira. Explica-se muita coisa.

E é por isso que cada vez que vejo Costa e os seus apaniguados a falar me lembro de um passado que não quero, de todo, voltar a repetir.

ANTÓNIO COSTA

Tivemos sorte. Este não teve a mesma sorte que Sócrates. O Engenheiro, habitante número 44 de um certo edifício localizado em terras eborenses, conseguiu ter a sorte de ter um Presidente da República que "correu" com um governo por razões que se dispensou de enunciar. E, assim, sem mais, e prometendo o que não pôde cumprir, e sem sequer estar preparado minimamente para ser Primeiro-Ministro e deu, não por culpa exclusivamente sua, mas maioritariamente sua (é simples: eu vou a 170 km/h numa autoestrada, apanho óleo na estrada, tenho um acidente e a culpa é do óleo ou é minha que vou em excesso de velocidade?), naquilo que todos sabemos que deu.

O então número dois do Engenheiro Sanitário que tirou o curso a um domingo, assinou projectos indevidos na Covilhã e sabe-se mais o quê, conseguiu correr sempre na sombra e sair de cena quando as coisas queriam dar para o torto. Em 2007 concorreu a uma Câmara de Lisboa que tinha um problema de pagamento a fornecedores. E conseguiu pagar aos funcionários. Milagre? Não, passou a dever mais à banca. Pagou aos fornecedores com um empréstimo feito à banca. Assim é fácil. Mas ninguém fala disso. Então o nosso homem continuou. Agora, até baixou a dívida da Câmara de Lisboa em certa de 2/5. Como? Assim. Mas é o maior. Vejam lá que até lhe permitiu baixar os impostos da Câmara. Mas o mais interessante é que é sempre muito bom.

Então o nosso homem pensou que seria altura para ir para o Governo do país. Então, fez tábua rasa de críticas a líderes eleitos e desata a criticar, sem dó, o então "companheiro" de partido. Sempre com a benção do "quarto poder", a imprensa portuguesa, claro está. Até que conseguiu chegar onde pretendia. Ao que parece, estava com ideias de ir governar o mais rápido possível. Mas até isso corre mal, uma vez que as eleições não seriam em Abril (e agora estaríamos em campanha eleitoral e o país parado) mas apenas em Outubro. Que chatice. Mas ao menos vai ser com maioria absoluta. Afinal, Seguro é que não dava nas vistas, mas o outro não. Mas as sondagens nunca mais viram. E andam cada vez mais na mesma. 

Mas as ideias ao menos serão boas. Seguro não tinha ideias, mas o sr. Presidente teria as ideias luminosas que fariam Portugal sair do "buraco" em que se encontrava. Mas ideias, nem vê-las. E tudo o que sai, a muito custo, não é nada de extraoridinário, senão uma repetição de um conjunto de políticas que nos levaram à bancarrota de 2011.

Pois bem. Acho que o melhor "elogio" que posso fazer a Costa é dizer que, se lá estivesse Seguro era nele que iria votar. Assim, terei que votar em Pedro Passos Coelho. A não ser que encontre outra alternativa. Neste PS não voto. 

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

ALEXIS TSIPRAS

Por estes dias não se fala de outro homem à face da Terra. Para uns conta "histórias de crianças" e para outros foi o primeiro a fazer tremer Angela Merkel. Nas palavras de uma nossa eurodeputada, temos "finalmente um primeiro-ministro que defende os portugueses". Sim.

Pelo menos uma coisa é certa. Ainda não é desta que regressamos à normalidade. Mas vou começar pelo princípio. Tsipras foi eleito a um Domingo, tomou posse a uma segunda-feira e, penso, até ao final da semana seguinte tinha o Governo formado. Com coligação. À portuguesa só funcionaria quase dois meses depois. Bravo!

Depois foi um roteiro pela Europa. Chega a casa pior do que o que foi (o BCE tinha acabado de tirar o tapete que faltava) e é recebido em festa. Nós temos a nossa dignidade. Não queremos mais ter austeridade. E mais uma série de afirmações que visam criar uma identidade completamente diferente da de Samaras, o lider da oposição (engraçado, o ex-primeiro-ministro é o líder da oposição, em Portugal ter-se-ia demitido).

Ao que parece, falava-se em reestruturação, em mais um perdão. Mas agora fala-se em renegociação. Falava-se em mandar o Memorando à fava, agora até se cumpre mais de metade (sempre é melhor que o caso Português, que só cumpriu 33%). E a Alemanha a manter a compostura e a dizer que não há mais nada para ninguém. E outros ministros das Finanças a solidarizarem-se com Tsipras. Contudo, tudo gente que não tem, penso, grandes problemas com dívida ou com défice.

Hoje fomos ao mercado. Não ao da fruta. Ao Financeiro. O que nos empresta dinheiro. Portugal e a Grécia conseguiram mais ou menos a mesma taxa: 2,5% de juros. A diferença está que Portugal foi uma dívida a 10 anos e a Grécia uma dívida a 6 meses. É só uma "curta" diferença.

Hoje, os chefes do Governo dos países do Euro estiveram reunidos. Não chegaram, mais uma vez, a acordo. Não interessa. Pedimos ajuda aos Russos (até lhes oferecemos umas bases aéreas e umas passagens para os gasodutos). Pedimos ajuda aos Chineses (que ainda não sabem de nada) ou até mesmo aos americanos (que só dizem cobras e lagartos da austeridade).

Pelo caminho ameaçam dizendo que se cairmos, não caímos sozinhos. Cai Portugal, caem os PIIGS e pode mesmo cair o Euro. Até certo ponto tem razão. Ainda não está testado o que pode acontecer se um dos países sair do Euro.

Ou seja, temos muita coisa para ir observando. Ao que parece, a Grécia só tem dinheiro para mais uns meses, quiçá até pouco antes do Verão. Sempre estão melhores do que aquilo que Sócrates nos deixou, que nem dava para pagar salários no mês a seguir. Vamos ver como correm as coisas. Mas que a "novela" parece ser animada, isso parece.