No princípio foram as contas. Sempre as contas. Os ideólogos que diziam que o dinheiro aparece sempre tiveram a maior surpresa das suas vidas, quando o vil metal que ajuda a fazer girar o mundo deixou de ser tão barato como costumava ser e se tornou escasso. Tão escasso que ninguém queria emprestar.
Depois de casa arrombada, trancas à porta, já diz o povo. Foi necessário então tratar de arranjar maneira de o dinheiro vir na mesma. Então veio uma tríade, ou troika, ou triunvirato, que o povo é sempre bom a arranjar nomes, que tratou de arranjar o dinheiro, face a uma série de condições que, de 3 em 3 meses eram avaliadas. E depois da nota mínima alcançada, a recompensa, o dinheirinho, fresquinho.
A propósito, penso que os militares poderão reconhecer esta história: o meu pai recebeu o salário dele com cerca de 4 dias de atraso, por alturas pré-troika. Nos dias imediatamente anteriores o Governo tinha feito a última incursão nos mercados e pedido emprestado dinheiro a taxas exorbitantes. Serviram para isso. Imagino os militares com responsabilidades na banca ou a necessitar mesmo desse dinheiro. Devem ter tremido muito nesses dias.
Já todos conhecemos a história. Relembremos então os pormenores. No princípio, o défice era de 4,6% e nem mais um euro. Depois, com o memorando eram 5,9% e não se falava mais nisso. E, em junho, já eram 7,7%. Pois. Uma coisa é uma coisa, e outra coisa é outra coisa. Estamos a falar de mais metade face ao previsto inicialmente e mais um terço face àquilo que se previu em Maio. Então faça-se um corte nos salários dos funcionários públicos.
Alto que o Tribunal Constitucional não deixa! Pudera, também foi atingido. Então aumentem-se os impostos e faça-se uma sobretaxa no IRS. Pronto. E vamos aumentando o combate à fraude. Aumentam-se os impostos, cortam-se salários, aperta-se mais (e talvez a mais) a economia. Porquê? Já todos se esqueceram? As contas dos outros foram mal feitas!!! E são eles (os mesmos, as mesmas caras!) que querem vir para o poleiro outra vez.
E depois toca a baixar o défice. E os juros da dívida. E abençoada ajuda estrangeira. Aqui Seguro tinha razão e Passos fez mal em tê-lo deixado descolar. Poderia perfeitamente ter mandado Portas às malvas e apoiado Seguro. Teríamos governo para muitos e bons anos. Primeiro com uns e depois com outros. Uma das razões pelas quais eu gostava de Seguro é que foi capaz de antever o que se iria passar na Europa. Mais tempo (óbvio, claro!) com um pouco mais de auxílio do BCE. Só não acertou na mutualização da dívida (que vai ter de arrancar) e na colagem excessiva a Hollande. Mas falhou quando não encostou os Socratistas a uma parede. Foi o seu ponto fraco, o passado.
E depois tivemos a maior roda de independentes em ministérios. Rezam as crónicas que todos fizeram bons trabalhos. E todos prestam provas no estrangeiro e são reconhecidos. Santos Pereira na OCDE e Vitor Gaspar (primo de Louçã, ironicamente!) no FMI. Em Portugal não percebiam nada do assunto. Saiba-se lá porquê. A propósito, era bom ler o livro de Santos Pereira. Explica-se muita coisa.
E é por isso que cada vez que vejo Costa e os seus apaniguados a falar me lembro de um passado que não quero, de todo, voltar a repetir.
Sem comentários:
Enviar um comentário