quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

JULEN LOPETEGUI

"Lopetegui teve medo e preferiu não perder a ganhar na Luz. Resultou. Não perdeu. Mas não ganhou. Ficou tudo na mesma. E o Benfica será o campeão de 2014/2015. E justamente. Um treinador que prefere não perder a ganhar jamais poderá ser campeão."

Escrevi isto em Maio de 2015, na ressaca do empate do FC Porto na Luz. Hoje, Lopetegui deu mais um exemplo disto. O jogo começou com uma "invenção" incrível do treinador espanhol. A equipa, a precisar de ganhar, joga sem Ponta de Lança, com Layun a extremo esquerdo, e com Indi a defesa esquerdo. Na jornada passada, a precisar de ganhar, volta a inventar.

São inúmeras as invenções que este senhor tem feito. O ano passado custaram um Campeonato e uma Taça. Pelos vistos, o senhor ainda não aprendeu. A Champions não se perdeu hoje, apesar do "onze" inacreditável que escalonou. Perdeu-se há 15 dias, no Dragão (ainda por cima!), contra o Dinamo de Kiev.

"O pior, no meio disto tudo, é mesmo ver que Lopetegui não tinha um plano B. Ou as coisas corriam como previsto, ou então, se fosse preciso mudar, não havia essa capacidade. Foi assim em todos os jogos. Não houve um "passe de mágica", um plano B, uma coisa qualquer que permitisse dar a volta aos jogos menos bons que podem sempre acontecer. Foi assim com o Boavista (Mourinho e Villas Boas tinham ensaiado esquemas para o Porto quando estivesse a jogar com 10), com o Estoril, contra o Sporting para a Taça (e para a liga não levou uma coça por sorte, mesmo com a última oportunidade de Tello) e contra o Benfica em casa."

Um ano depois também esta afirmação continua verdadeira. Só com uma excepção que foi o jogo com o Paços de Ferreira. Continua tudo na mesma. Quando as coisas não correm bem, não há nada de que Lopetegui consiga fazer para mudar as coisas. A conferência de imprensa foi exemplar em confirmar esta afirmação: a perder aos 10 minutos, Lopetegui demorou 45 minutos a mudar qualquer coisa, e mesmo assim não resultou.

Jorge Jesus também tem uma certa tendência para inventar. E isso ainda poderá custar uma Liga Europa ao Sporting. Mas deu uma nova "vida" a João Mário. E "ressuscitou" William. E deu um belo "upgrade" a Slimani. E também tem uma maneira de estar no banco muito activa.
"Lopetegui é outro Jorge Jesus, mas com uma grande diferença. Percebe bem menos de futebol."

A conclusão é só uma. Está mais que na hora de o senhor ir embora.

sábado, 24 de outubro de 2015

E AGORA?

E agora, eu se fosse a Passos, depois de tomar posse e ser chumbado, anunciaria que votaria contra todas as medidas que o Governo propusesse. Mas nunca teria a iniciativa de o chumbar e votaria contra toda e qualquer moção de censura que viesse a ocorrer. Sim, porque eu não acredito que BE e PCP viabilizem este governo por mais que um ano.

Seria então Costa a propor uma moção de confiança que então chumbaria. Amor, com amor se paga.

VENDER A ALMA AO DIABO POR UM PRATO DE LENTILHAS

O resultado das eleições foi nem mais nem menos que uma verdadeira lotaria. Poderia sair de lá tudo aquilo que se quisesse que seria sempre legal e legítimo. Pelo menos na parte da forma.

A tradição portuguesa indica que o partido mais votado foi o que formou governo. Sempre, mesmo que não formasse coligações com ninguém. Foi assim sempre. Com Soares, com Cavaco, com Guterres e até com Sócrates. Mas a tradição não obriga a que seja sempre cumprida. É o que irá acontecer desta vez.

Do mesmo modo, a tradição "manda" que o Presidente da AR seja do partido mais votado. O que já não é o que era. Ferro, o tal que se estava "cagando" para o Segredo de Justiça (isto só por si já traz algumas reticências, mas admitamos que ele considera que foi uma frase infeliz e que já mudou de ideias) e que, na primeira intervenção que fez no Parlamento invocou o nome de Sócrates como um elemento de referência (mas pronto, isso até pode ser por ordem do Chefe do partido).

Todo este filme é possível porque os partidos de esquerda definiram que, desta vez, se iriam aliar ao partido menos à esquerda e iriam viabilizar (pelo menos, porque também o podem integrar) um "governo de esquerda" com o PS. E, fundamentalmente, evitar que Passos liderasse mais um Governo com "políticas de direita". No caso do PS porque já tinha dito que o ressentimento era tão grande que jamais viabilizaria um Governo da coligação. 

Deste modo, temos o filme mais ou menos completo. Apesar de a coligação ter mais votos que o PS, não tem mais votos que os partidos todos de esquerda. E apesar de o PSD ter mais deputados que o PS, será o PS a liderar um Governo. Governo esse que será, então, apoiado pelos partidos da esquerda radical.

Até aqui é tudo legítimo. Se isso é possível, então aplique-se. Só que temos aqui um pequeno problema de honestidade intelectual (o que para mim é muito grave) que é preciso resolver. 

Catarina Martins fez toda a sua política defendendo ideias como a saída da Zona Euro e da NATO, além de ser terminantemente contra o chamado "Tratado Orçamental" que defende o rigor (a que se chamou "austeridade" - que é uma palavra que vem do alemão que traduzido à letra significa, nem mais nem menos, "rigor") orçamental e que apoiou entusiasticamente Tsipras em Janeiro e criticou o seu "flique-flaque" face ao novo programa de austeridade que teve que assinar. A honestidade leva a que se diga que foi ela a única a propôr um "governo de esquerda", em que o PS teria que abdicar das suas bandeiras: TSU, Pensões e Regime Conciliatório. Vemos que o programa do PS estava tão bem desenhado que foi possível abdicar disto tudo sem qualquer problema.

Jerónimo de Sousa fez toda a sua campanha contra o PS (dizendo que era farinha do mesmo saco que o PSD e o CDS) e está há um punhado de anos a defender a saída de Portugal do Euro e da União Europeia (foi visceralmente contra a adesão) e da NATO (deve ser para integrar as forças do Pacto de Varsóvia). E jamais admitiria entrar no Governo. A honestidade intelectual manda afirmar que foi este "flique-flaque" que permitiu toda esta festa. Após a campanha eleitoral, o PCP defendeu que a Europa deveria criar apoios para os países que quisessem sair do Euro.

Acontece que Costa disse que não queria sair do Euro, nem queria sair da NATO, nem queria sair da UE, nem queria que as contas orçamentais derrapassem acima dos 3% do PIB. Então temos aqui um problema. Vai haver alguém que vai mentir. Espero que sejam Catarina e Jerónimo. Mas esta mentira tem ainda perna mais curta que as de Passos em 2011, Sócrates em 2005 e Barroso em 2002, já que todos foram confrontados com estatísticas oficiais de que o país estava pior do que disseram que estava, e foi assim que justificaram as mudanças de planos. Em causa estava a permanência na Zona Euro e na UE, que todos eles defendiam.  

Desta vez, uniram-se e não se importaram de abdicar de tudo aquilo que defenderam para evitar que governasse um "governo de direita" em Portugal. Se tudo correr como previsto vão consegui-lo. Depois, só Deus sabe como correrá.

quinta-feira, 1 de outubro de 2015

DESCONSTRUIR MITOS

Estava a ouvir uma repetição do "Prolongamento", programa da TVI24 onde se discute o sexo dos anjos relativamente ao futebol, e lembrei-me que uma grande parte do mito Pep Guardiola começa quando o Barcelona ganha todas as competições onde está inserido na primeira época. Ganha tudo: Campeonato, Taça e Champions. Ganha a Champions, numa final contra o Manchester United. Contudo, as meias finais foram as mais polémicas de sempre, em que o Chelsea, de Hiddink, foi literalmente espoliado de quatro penalties. Sim, houve quatro lances para grande penalidade, que fariam uma final Man Utd - Chelsea, e se calhar as coisas seriam diferentes. Lembro-me de outras meias finais, entre Real Madrid e Barcelona, onde mais uma vez o Barcelona de Guardiola foi tendencialmente beneficiado. Mas, demos estas últimas de barato, e concentremo-nos no essencial: foi com uma roubalheira de todo o tamanho de um senhor chamado Tom Ovrebo (o árbitro dessa meia final) que começou o início de um mito - o Barcelona ganhou, no ano seguinte, a Supertaça Europeia e o Campeonato do Mundo de Clubes, relativos a essa Champions ganha "indevidamente". Tivesse Mourinho a mesma sorte, e se calhar, hoje tinha muito mais troféus que os muitos que já tem.

Hoje saiu uma "grande sondagem" da Universidade Católica para a RTP, que dá uma maioria relativa à PàF. O grande derrotado será, assim, António Costa, líder do PS. António Costa era considerado pela "inteligência publicante" como o melhor candidato do PS e chegou a líder do PS após um "golpe de estado" interno, onde apeou o anterior líder, António José Seguro, que era criticado por toda a "gente" porque não era o líder indicado para o efeito. Costa, diziam, era o líder que iria catapultar o PS para a maioria absoluta e Seguro era o líder das vitórias por "poucochinho". Ora, vamos vendo que afinal Costa não era o tal "Messias" da esquerda e afinal o PS é capaz de ganhar apenas na secretaria. Costa, era o número 2 de Sócrates (de quem só se demarcou em desespero no fim de campanha) e foi Presidente da CML onde teve que fazer acordos à força com a oposição e baixou a dívida. Ora, teve que fazer acordos com a oposição, porque esta tinha a maioria na Assembleia Municipal (e se não negociasse, as suas medidas não passavam) e baixou a dívida, porque o Governo assumiu cerca de 40% da dívida da Câmara, o que lhe permitiu baixar a dívida e a correspondente conta dos juros. Tivesse isto tudo sido escrutinado, como foi o programa eleitoral que apresentou e que o deixou embasbacado e mal disposto (ver a entrevista que deu à RTP), e se calhar já há muito que se tinha descoberto que o mito tinha pés de barro. E de fraca qualidade.

São dois exemplos da construção de mitos. Um como um político muito bom e outro como um treinador excepcional. Para mim, nem um nem outro são aquilo que se lhes apelida. São bons, mas não passam disso.

quinta-feira, 10 de setembro de 2015

ANTÓNIO COSTA

António Costa não se pode queixar. Esta semana teve duas hipóteses de poder dizer o que pensa sobre o futuro e o que planeia fazer de diferente face à coligação que governa o país.

Se na primeira chance esteve muito bem, foi liderante, cordato e foi directo ao assunto, na segunda demonstrou o pior que tem em si, o mau feitio e a incapacidade de lhe perguntarem coisas diferentes caso lhe tirem o tapete.

Comecemos pela primeira. O debate não aconteceu. Ter meia dúzia de minutos para debater um tema é impossível e obriga apenas a que se diga o que se quer fazer, sem vincar grandes diferenças. E foi isso que se viu ontem. O debate foi dominado pelas expressões "tem de concluir", ou "já excedeu o seu tempo". Costa aproveitou e foi liderante, foi ele que assumiu as despesas do debate e criticou o Governo e Passos esteve, a meu ver mal, na defensiva. Esteve quase "apático", quase sem vincar a sua posição. Optou por chamar uma série de vezes José Sócrates, e não trouxe nada do seu programa à baila, com excepção da Segurança Social. Aliás, foi o tema que mais mal foi explicado e terminou, como foi usual, com um "tem de concluir".

António Costa foi, então, muito mais simpático, mais directo ao assunto, mais cordato. Esteve melhor. Ganhou. 

Hoje teve uma entrevista com Vitor Gonçalves que foi o advogado do diabo. Costa "passou-se" completamente. Acusou o jornalista de ser porta-voz da coligação e acusou-o de não ter feito os trabalhos de casa. Foi grosseiro e roçou o limite da má educação. Gonçalves foi simpático, pois, à segunda vez que Costa insinuou sobre a sua parcialidade, poderia ter respondido que não admitia que pusesse em causa a sua honestidade e a coisa poderia ter ficado feia. O jornalista não foi por esse caminho. Felizmente.

Costa tem um soundbyte. Somos os únicos com as contas feitas. Recrutámos uma série de especialistas e fizeram um quadro macroeconómico que nos permite fazer estas promessas. Hoje foi mais esmiuçado esse quadro. Os números são, no mínimo, optimistas. Mais de 2% em todos os anos e mais de 3% num dos anos. Com o mundo neste estado, não sei, não. Mesmo que não fosse, só em 2007 é que tivemos isto e foi com as consequências que se sabem. Costa foi, finalmente!, encostado à parede e estrebuchou e muito, mas safou-se bem. Não percebo porque é que faz estas birras.

Só não concordo com as críticas que faz a Passos com a austeridade e com a dívida. É criticar a doença e o remédio. Sem super-avits primários não há redução de dívida (e Sócrates conseguiu isso em 2007) e nós estamos longe disso. Critica o excesso de austeridade, mas sem a austeridade a dívida seria maior. Alguém me consegue explicar a lógica do raciocínio?

segunda-feira, 7 de setembro de 2015

É O NOME NA CAMISOLA, ESTÚPIDO!

Portugal ganhou na Albânia. Uma lança em África, conforme se vai vendo pelos nossos lados. Afinal, tínhamos perdido em casa, na primeira volta.

Não posso deixar de estar contente e de fazer uma apreciação crítica. A renovação continua adiada, não temos um PLC (aqui a culpa não é do seleccionador) e continuamos a ter um seleccionador que olha aos nomes nas camisolas na altura das convocatórias e das substituições.

É desesperante ver um seleccionador que tira Bernardo Silva (que jogador!) e deixa ficar um pasmacento Danny. E Cristiano já demonstrou por mais que uma vez que não serve a PLC, quando muito só como segundo avançado, atrás do PLC. Mas insiste na mesma tecla.

Parafraseando, "é o nome na camisola, estúpido!" Só pode mesmo ser. (Ah!, e existe um novo sistema na selecção: o 1x4x3x3 Wi-Fi)

quarta-feira, 22 de julho de 2015

HONESTIDADE INTELECTUAL

Posso concordar mais ou menos com as opiniões das pessoas. Elas têm é que ser bem fundamentadas. E nesse aspecto, os nossos políticos (quem mais?) deixam muito a desejar.

Passos Coelho diz "que se lixem as eleições". Mas lá no fundo, é bem ao contrário. "As reformas estão feitas", menos a reforma mais importante, a do Estado. A redução do défice é pela receita e  não pela despesa (a reforma do Estado ficou para quem, mesmo?) e poderia continuar.

António Costa diz que enquanto foi autarca reduziu a dívida da Câmara de Lisboa (pois, sim, poderia era dizer que foi graças a um diferendo em tribunal que se arrastava há uma série de anos e foi isso que lhe permitiu baixar a dívida, senão ela continuava a subir), diz que este Governo cortou no Estado para baixar a dívida, mas a dívida subiu (poderia dizer que eram precisos super-avits primários para baixar a dívida e que eles não existiram - mas isso queimava o PS de 2011) e poderia na mesma continuar.

Com tanto desonesto intelectual, com que coragem hei-de eu ir votar?

terça-feira, 2 de junho de 2015

O INJUSTIÇADO

Marco Silva merece, na minha opinião, o prémio de "Injustiçado do Ano".

Ao contrário daquilo que todos fazem crer, o plantel do Sporting era, dos três candidatos ao título, o mais fraco. Não adianta ter 11 bons jogadores (que nem isso tinha), precisava de ter jogadores que pudessem suprimir momentos menos bons dos "titulares" e também nem isso tinha (com excepção de, por vezes, Carlos Mané).

Comecemos pelo princípio. Patrício é um bom GR, mas treme como varas verdes em momentos mais difíceis, desde que não meta penalties, que essa é a sua especialidade. Mas Cedric, Miguel Lopes e Paulo Oliveira servem para o Campeonato Nacional, e pouco mais. Maurício foi muito bem vendido à Lazio, e Tobias tem muito que crescer. Sobra Ewerton. Jonathan e Jefferson são dois bons defesas esquerdos e, caso um deles saia, o outro ocupará o seu lugar sem prejuízo da equipa.

William é um bom jogador. Seria muito bom no 4x3x3 de Lopetegui. No 4x2x3x1 de Marco Silva precisa de fazer outras coisas que ainda não consegue fazer. Mas com tempo aprende. Adrien é bom para o campeonato português. João Mário idem. André Martins nem pensar. Sobra? Rosell e Slavchev só mesmo para fazer número. Os miúdos da B precisavam de ganhar ritmo.

Carrillo e Nani são os titulares indiscutíveis. Capel já não faz a diferença. Sobra Mané. Que conseguiu algumas vezes fazer qualquer coisa de novo. Mas não muito. É jovem, mas tem que começar a dar corda aos sapatos.

Slimani e Montero são bons jogadores. Como o Sporting deste ano joga de maneira diferente do do ano passado, Slimani este ano encaixou que nem uma luva. O ano passado era Montero. Tanaka é mesmo para encher. E ainda assim marcou uns golos importantes.

Ou seja, nem de perto nem de longe poderiam competir com o Benfica de Jesus (com toda aquele tempo seguido de trabalho) nem de Lopetegui (com a qualidade individual dos jogadores). Ora, Marco Silva teve de potenciar tudo aquilo que tinha e ao máximo.

Para mim, a grande diferença face ao ano anterior é que Jardim, com todas as suas qualidades e defeitos, fez 30 jogos no campeonato, mais 2 jogos na Taça de Portugal e mais 6 (no máximo) na Taça da Liga. Não teve Champions, nem Liga Europa. Marco Silva fez 34 jogos no campeonato, mais 6 jogos (máximo) na Taça da Liga, mais os jogos todos da Taça de Portugal (penso que são 8) e mais 6 jogos na Champions e 2 jogos na Liga Europa. São, assim, 38 jogos em 2013/2014 contra 54 jogos em 2014/2015. São muito mais jogos, menos tempo de descanso e muito menos tempo de preparação. E isso faz toda a diferença.

Por isso, Marco Silva não merecia que um presidente ansioso por protagonismo lhe fosse tirando o tapete várias vezes. E não merecia que uma imprensa sedenta de especulações quisesse que ele dissesse algo que não disse, e muitas vezes não queria sequer insinuar. Neste momento, fala-se (como é possível?) se continua ou não no Sporting. Eu, se fosse presidente do Porto, caso ele saísse, no mesmo dia era treinador do Porto. É demasiado bom treinador e demasiado correcto para ser deixado por aí ou ser tratado de forma indecente.

A final da Taça do passado domingo (tal como o jogo com o Schalke 04, ou os jogos de Alvalade com Benfica e Porto onde encostou os adversários às cordas e só não ganhou por manifesta infelicidade) que ganhou e ganhou muito bem, mesmo jogando 75 minutos em inferioridade numérica, e mostrou que do banco e no balneário também se pode mexer com o jogo (ao contrário do que fez Lopetegui o ano todo no Dragão), é a última mostra da qualidade e da competência de um treinador cuja postura ao longo de todo o ano, mesmo perante todas as adversidades, internas e externas, não posso deixar de admirar.

Para mim, se tivesse que escolher o treinador do ano, seria Marco Silva. E explico porque não seria nem Jorge Jesus nem Rui Vitória. O primeiro, porque o Benfica não convenceu e essencialmente ganhou o campeonato aproveitando os deslizes dos outros (o ano passado tinha sido de forma categorica), e o segundo, porque pode desenvolver o seu trabalho sem a pressão de um grande. Marco Silva fez o seu trabalho com muito menos que os outros e conseguiu mais que um deles. E isso é de se tirar o chapéu.

segunda-feira, 18 de maio de 2015

JORGE JESUS

Dou inúmeras vezes o exemplo de Alex Ferguson como alguém que esteve 3 anos para ganhar o primeiro troféu no Manchester United para justificar que um treinador deve ter a maior estabilidade para trabalhar e que os resultados consistentes não aparecem de repente.

Jorge Jesus é o segundo exemplo de que me socorro. Depois da temporada brilhante de 2014, voltou a cumprir o maior objectivo do clube uma época depois. Não adianta mencionar as complexidades de calendário ou as atenuantes das lesões. Ele ganhou. O clube dele ganhou. Os outros não.

Então, para começar, os meus parabéns a Jorge Jesus e ao Benfica, para mal dos meus pecados.

Este campeonato é o exemplo mais crasso de um clube que preferiu a estabilidade a uma mudança contínua na forma de pensar o futebol. Nesse aspecto, Vieira tomou uma decisão de líder, quando há dois anos preferiu manter Jesus em vez de seguir a opinião dos adeptos e demiti-lo. E com isso teve ganhos. No ano subsequente ganhou tudo em Portugal, com um dos melhores plantéis que o Benfica teve na sua história recente. E este ano teve que refazer tudo de novo. Saiu o GR titular, o DC, DE, MC, ED, e um dos PLC. Isto, assim de memória. E nesse aspecto, o facto de ter uma estrutura estável permitiu contratar os jogadores adequados para os substituir. E foi aqui que o Benfica ganhou. Não teve que andar a fazer experiências. Decidiu que queria os jogadores com determinadas características pretendidas pelo seu treinador, viu o mercado, comprou os que podia, e a máquina, depois da habituação, voltou a carburar. Não como dantes, porque os jogadores eram diferentes, mas voltou a carburar.

Depois há que tirar o chapéu a Jesus. Com menos qualidade conseguiu fazer um belíssimo campeonato. Nenhuma das alternativas era melhor do que os que sairam (daí a máquina não ter carburado como dantes) mas conseguiu à mesma uma equipa capaz de dominar os jogos contra 80% das equipas e de controlar com as restantes. Foi mais que suficiente. Depois não há campeões sem sorte. Os dois golos no Dragão e o empate de Alvalade deram o empurrão para que o Benfica fosse o campeão nacional de 2015.

Não vou falar dos árbitros. Poderia, mas não falo. Porque o principal adversário não teve um treinador à altura dos acontecimentos e perdeu pontos impensáveis. Quando devia ter jogado para ganhar, preferiu jogar para não perder. E quem joga assim jamais pode querer ser campeão.

Agora venha 2015/16. De preferência com uma estrutura no Porto que perceba o que falhou e que não cometa os mesmos erros. Quando ao Benfica, acho que Jesus merece todo o esforço que se faça para que fique no Benfica. Pelo menos para os Benfiquistas. Se não ficar, o Benfica parte sem uma grande parte do avanço que teve este ano. Vamos ver o que o futuro nos reserva.

sexta-feira, 1 de maio de 2015

A TAP

É porventura o último exemplo da forma como fomos desgovernados nos últimos 40 anos.

As notícias que todos os dias saem demonstram que tudo valia para que uma velha guarda se mantivesse no poleiro custasse o que custasse, e a TAP, como a EDP, o BCP e mais uma série de entidades por todos conhecidas, apanham por tabela. Tudo, sempre, a bem de Portugal e dos portugueses, e claro!, do bolso de uma meia-dúzia de indivíduos que fazem disto vida.

A TAP era uma sociedade anónima de capitais públicos. O que, diga-se, não seria o mesmo que uma empresa pública na data da sua criação. No vórtice nacionalizante de 1975 ficou, como quase tudo o resto, pública. A partir daí foi um fartote de prejuízos e de negociatas para a camaradagem, qualquer que ela fosse, desde que coincidente com quem estava no poleiro.

O último "hit" foi a construção de um Novo Aeroporto. Onde? Espera aí, primeiro temos de comprar os terrenos, baratos, para depois os vender. E o actual, nós fazemos aí umas construções e fazemos umas comissões por trás e a coisa trata-se. Tudo, a bem de Portugal e dos portugueses.

Mas depois veio a crise e afinal a Portela que estava para rebentar afinal não rebentou, nem rebentará. E os aviões que se previam necessários para esse "pique" afinal não são precisos, mas compram-se na mesma. E depois o BES foi à falência (sempre o banco do regime a patrocinar todas estas coisas). E a TAP a continuar a dar prejuizos. E o TGV (ou outra coisa qualquer, que seja em carris) a ficar para outras núpcias para salvar a TAP.

Entretanto, para manter a malta satisfeita, promete-se uma coisa incumprível aos trabalhadores. Quando a TAP mudar de dono, vocês ficam com 20% da empresa. Depois logo se vê. E os trabalhadores dizem que defendem a empresa se forem de greve e fazem uma greve de 10 dias. E pronto, temos um caldinho perfeito.

Pronto. Agora temos uma solução. Fechem a TAP. Liquidem o património e paguem das dívidas. O que faltar, mais uma vez, é da responsabilidade cá do "Zé". Paciência. Mas assim nunca mais temos problemas. Ah!, sim!, e o mais importante continua por fazer: correr com esta cambada de políticos do poleiro. Laranjas, Rosas, Azuis e Vermelhos. Mas isso fica para outro post, um dia destes

JULEN LOPETEGUI

Poderia começar pelo que aqui escrevi há uns meses, quando falei do que poderia ser o FC Porto para 2015. Mais uma vez, infelizmente, confirmou-se o que previa.

Lopetegui tinha tudo para ser, das duas uma, ou uma aposta de sucesso ou um "barrete" dos antigos de Pinto da Costa. Ao contrário de Paulo Fonseca e mesmo Vitor Pereira, não se pode, de forma nenhuma, queixar do plantel que o clube lhe pôs à disposição. Com bom jogadores em todas as posições e alternativas minimamente decentes para o caso de elas falharem.

Helton (Fabiano); Danilo (Opare - porque é que foi emprestado?); Alex Sandro (Angel - não me parece mau jogador, mas precisava de ter jogado mais); Maicon, Marcano, Martins Indi e Reyes (só Reyes é que não é "bom" mas penso que precisa de ser emprestado a um Guimarães para crescer), Casemiro (se calhar aqui Ruben Neves parece ser a que menos convence, mas eu acho que o miudo é muito bom e deveria ter jogado mais), Oliver, Herrera, Quintero (com um ocaso incrível quando estava a jogar bem), Brahimi, Tello (bom jogador, mas inconsequente, penso que precisa de crescer muito mais, mas para o ano será um jogador interessante para o plantel), Quaresma, Jackson (com Aboubakar, finalmente uma alternativa, que mal jogou), enfim, um plantel que servia e mais que chegava para fazer uma época decente.

Tal como digo em relação aos maestros das bandas, se eles não sabem onde se vêm meter, então, por melhores que sejam, não vão ser bons e suficientemente competentes a fazer o trabalho a que se propõem. Porque não é aquilo que era suposto fazerem, e porque aquilo que se propuseram fazer não se encaixa no ambiente onde estão inseridos. Lopetegui foi o caso mais exemplificativo daquilo que digo.

A rotação de plantel que Lopetegui criou foi no mínimo um disparate pegado. Com todas as suas consequências. Empata em casa com o Boavista, perde em casa com o Sporting para a Taça (a segunda mais importante competição nacional vai pelo cano assim, com um disparate de equipa!), empata no Estoril (onde volta a rodar metade da equipa e aposta em Adrian Lopez como 2º avançado), e só assim se perdem os pontos suficientes para o Porto, mesmo perdendo em casa com o Benfica (já nem falo nisso, Adriaanse também perdeu os dois jogos com o Benfica e foi campeão na mesma...), estar à frente.

O pior, no meio disto tudo, é mesmo ver que Lopetegui não tinha um plano B. Ou as coisas corriam como previsto, ou então, se fosse preciso mudar, não havia essa capacidade. Foi assim em todos os jogos. Não houve um "passe de mágica", um plano B, uma coisa qualquer que permitisse dar a volta aos jogos menos bons que podem sempre acontecer. Foi assim com o Boavista (Mourinho e Villas Boas tinham ensaiado esquemas para o Porto quando estivesse a jogar com 10), com o Estoril, contra o Sporting para a Taça (e para a liga não levou uma coça por sorte, mesmo com a última oportunidade de Tello) e contra o Benfica em casa.

O cúmulo foi o jogo no Estádio da Luz. Nesse aspecto tenho de tirar o chapéu a alguém que critiquei muito aqui, Vitor Pereira. Nos jogos com o Benfica o Porto não facilitava e anulava o Benfica e jogava de igual para igual os jogos na Luz. No Domingo passado vimos um FC Porto a jogar para não perder na Luz. Lopetegui teve medo e preferiu não perder a ganhar na Luz. Resultou. Não perdeu. Mas não ganhou. Ficou tudo na mesma. E o Benfica será o campeão de 2014/2015. E justamente. Um treinador que prefere não perder a ganhar jamais poderá ser campeão.


quinta-feira, 5 de março de 2015

FESTIVAL DA CANÇÃO 2015

Acabou a 2a semifinal deste ano do Festival da Canção de 2015. Mais uma vez não temos uma canção "festivaleira", no sentido de ser uma canção típica das que costumam ganhar o Festival da Eurovisão da Canção.

Não acho que seja um mau sinal. É apenas uma questão de tradição. Dificilmente nos adaptamos a uma coisa que seja totalmente externa àquilo que mais gostamos. Mas podíamos lembrar-nos, por exemplo, dos ABBA, que em vez de cantar em sueco cantaram em Inglês e ganharam o Festival e depois foi o que se sabe.

De todo o modo não foi mau. Houve anos bem piores. Desta vez posso dizer que tenho uma música da que gostei logo que ouvi, "Outra vez Primavera", e outra que gostei bastante, mas com a qual não simpatizei logo à primeira, "Um Fado em Viena". Para mim, o Festival deverá decidir-se entre estas duas.

Existe ainda mais outra que me cativou. Não pela música, mas pela intérprete. Simone de Oliveira mostrou que quem sabe não esquece e fez uma performance ao nível que conseguiu, com uma música desenhada especificamente (e muito bem desenhada, diga-se) para a sua reduzida amplitude vocal. Não esquecer que esta senhora teve um problema gravíssimo na garganta que lhe reduziu muito as suas capacidades neste âmbito.

Depois temos as outras. Dessas, algumas são compostas por alguns cantores. Como compositores foram coerentes com o tipo de músicas que cantam. Acho que faz sentido. E as outras são de compositores que não conhecia e que, pelo que ouvi, acho que passo bem sem conhecer.

E pronto. Sábado é a Final. Não estou à espera de nada de especial. Além do mais tenho ensaio e tenho que ir. Quando chegar já sei os resultados.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

NO PRINCÍPIO...

No princípio foram as contas. Sempre as contas. Os ideólogos que diziam que o dinheiro aparece sempre tiveram a maior surpresa das suas vidas, quando o vil metal que ajuda a fazer girar o mundo deixou de ser tão barato como costumava ser e se tornou escasso. Tão escasso que ninguém queria emprestar.

Depois de casa arrombada, trancas à porta, já diz o povo. Foi necessário então tratar de arranjar maneira de o dinheiro vir na mesma. Então veio uma tríade, ou troika, ou triunvirato, que o povo é sempre bom a arranjar nomes, que tratou de arranjar o dinheiro, face a uma série de condições que, de 3 em 3 meses eram avaliadas. E depois da nota mínima alcançada, a recompensa, o dinheirinho, fresquinho.

A propósito, penso que os militares poderão reconhecer esta história: o meu pai recebeu o salário dele com cerca de 4 dias de atraso, por alturas pré-troika. Nos dias imediatamente anteriores o Governo tinha feito a última incursão nos mercados e pedido emprestado dinheiro a taxas exorbitantes. Serviram para isso. Imagino os militares com responsabilidades na banca ou a necessitar mesmo desse dinheiro. Devem ter tremido muito nesses dias.

Já todos conhecemos a história. Relembremos então os pormenores. No princípio, o défice era de 4,6% e nem mais um euro. Depois, com o memorando eram 5,9% e não se falava mais nisso. E, em junho, já eram 7,7%. Pois. Uma coisa é uma coisa, e outra coisa é outra coisa. Estamos a falar de mais metade face ao previsto inicialmente e mais um terço face àquilo que se previu em Maio. Então faça-se um corte nos salários dos funcionários públicos.

Alto que o Tribunal Constitucional não deixa! Pudera, também foi atingido. Então aumentem-se os impostos e faça-se uma sobretaxa no IRS. Pronto. E vamos aumentando o combate à fraude. Aumentam-se os impostos, cortam-se salários, aperta-se mais (e talvez a mais) a economia. Porquê? Já todos se esqueceram? As contas dos outros foram mal feitas!!! E são eles (os mesmos, as mesmas caras!) que querem vir para o poleiro outra vez.

E depois toca a baixar o défice. E os juros da dívida. E abençoada ajuda estrangeira. Aqui Seguro tinha razão e Passos fez mal em tê-lo deixado descolar. Poderia perfeitamente ter mandado Portas às malvas e apoiado Seguro. Teríamos governo para muitos e bons anos. Primeiro com uns e depois com outros. Uma das razões pelas quais eu gostava de Seguro é que foi capaz de antever o que se iria passar na Europa. Mais tempo (óbvio, claro!) com um pouco mais de auxílio do BCE. Só não acertou na mutualização da dívida (que vai ter de arrancar) e na colagem excessiva a Hollande. Mas falhou quando não encostou os Socratistas a uma parede. Foi o seu ponto fraco, o passado.

E depois tivemos a maior roda de independentes em ministérios. Rezam as crónicas que todos fizeram bons trabalhos. E todos prestam provas no estrangeiro e são reconhecidos. Santos Pereira na OCDE e Vitor Gaspar (primo de Louçã, ironicamente!) no FMI. Em Portugal não percebiam nada do assunto. Saiba-se lá porquê. A propósito, era bom ler o livro de Santos Pereira. Explica-se muita coisa.

E é por isso que cada vez que vejo Costa e os seus apaniguados a falar me lembro de um passado que não quero, de todo, voltar a repetir.

ANTÓNIO COSTA

Tivemos sorte. Este não teve a mesma sorte que Sócrates. O Engenheiro, habitante número 44 de um certo edifício localizado em terras eborenses, conseguiu ter a sorte de ter um Presidente da República que "correu" com um governo por razões que se dispensou de enunciar. E, assim, sem mais, e prometendo o que não pôde cumprir, e sem sequer estar preparado minimamente para ser Primeiro-Ministro e deu, não por culpa exclusivamente sua, mas maioritariamente sua (é simples: eu vou a 170 km/h numa autoestrada, apanho óleo na estrada, tenho um acidente e a culpa é do óleo ou é minha que vou em excesso de velocidade?), naquilo que todos sabemos que deu.

O então número dois do Engenheiro Sanitário que tirou o curso a um domingo, assinou projectos indevidos na Covilhã e sabe-se mais o quê, conseguiu correr sempre na sombra e sair de cena quando as coisas queriam dar para o torto. Em 2007 concorreu a uma Câmara de Lisboa que tinha um problema de pagamento a fornecedores. E conseguiu pagar aos funcionários. Milagre? Não, passou a dever mais à banca. Pagou aos fornecedores com um empréstimo feito à banca. Assim é fácil. Mas ninguém fala disso. Então o nosso homem continuou. Agora, até baixou a dívida da Câmara de Lisboa em certa de 2/5. Como? Assim. Mas é o maior. Vejam lá que até lhe permitiu baixar os impostos da Câmara. Mas o mais interessante é que é sempre muito bom.

Então o nosso homem pensou que seria altura para ir para o Governo do país. Então, fez tábua rasa de críticas a líderes eleitos e desata a criticar, sem dó, o então "companheiro" de partido. Sempre com a benção do "quarto poder", a imprensa portuguesa, claro está. Até que conseguiu chegar onde pretendia. Ao que parece, estava com ideias de ir governar o mais rápido possível. Mas até isso corre mal, uma vez que as eleições não seriam em Abril (e agora estaríamos em campanha eleitoral e o país parado) mas apenas em Outubro. Que chatice. Mas ao menos vai ser com maioria absoluta. Afinal, Seguro é que não dava nas vistas, mas o outro não. Mas as sondagens nunca mais viram. E andam cada vez mais na mesma. 

Mas as ideias ao menos serão boas. Seguro não tinha ideias, mas o sr. Presidente teria as ideias luminosas que fariam Portugal sair do "buraco" em que se encontrava. Mas ideias, nem vê-las. E tudo o que sai, a muito custo, não é nada de extraoridinário, senão uma repetição de um conjunto de políticas que nos levaram à bancarrota de 2011.

Pois bem. Acho que o melhor "elogio" que posso fazer a Costa é dizer que, se lá estivesse Seguro era nele que iria votar. Assim, terei que votar em Pedro Passos Coelho. A não ser que encontre outra alternativa. Neste PS não voto. 

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

ALEXIS TSIPRAS

Por estes dias não se fala de outro homem à face da Terra. Para uns conta "histórias de crianças" e para outros foi o primeiro a fazer tremer Angela Merkel. Nas palavras de uma nossa eurodeputada, temos "finalmente um primeiro-ministro que defende os portugueses". Sim.

Pelo menos uma coisa é certa. Ainda não é desta que regressamos à normalidade. Mas vou começar pelo princípio. Tsipras foi eleito a um Domingo, tomou posse a uma segunda-feira e, penso, até ao final da semana seguinte tinha o Governo formado. Com coligação. À portuguesa só funcionaria quase dois meses depois. Bravo!

Depois foi um roteiro pela Europa. Chega a casa pior do que o que foi (o BCE tinha acabado de tirar o tapete que faltava) e é recebido em festa. Nós temos a nossa dignidade. Não queremos mais ter austeridade. E mais uma série de afirmações que visam criar uma identidade completamente diferente da de Samaras, o lider da oposição (engraçado, o ex-primeiro-ministro é o líder da oposição, em Portugal ter-se-ia demitido).

Ao que parece, falava-se em reestruturação, em mais um perdão. Mas agora fala-se em renegociação. Falava-se em mandar o Memorando à fava, agora até se cumpre mais de metade (sempre é melhor que o caso Português, que só cumpriu 33%). E a Alemanha a manter a compostura e a dizer que não há mais nada para ninguém. E outros ministros das Finanças a solidarizarem-se com Tsipras. Contudo, tudo gente que não tem, penso, grandes problemas com dívida ou com défice.

Hoje fomos ao mercado. Não ao da fruta. Ao Financeiro. O que nos empresta dinheiro. Portugal e a Grécia conseguiram mais ou menos a mesma taxa: 2,5% de juros. A diferença está que Portugal foi uma dívida a 10 anos e a Grécia uma dívida a 6 meses. É só uma "curta" diferença.

Hoje, os chefes do Governo dos países do Euro estiveram reunidos. Não chegaram, mais uma vez, a acordo. Não interessa. Pedimos ajuda aos Russos (até lhes oferecemos umas bases aéreas e umas passagens para os gasodutos). Pedimos ajuda aos Chineses (que ainda não sabem de nada) ou até mesmo aos americanos (que só dizem cobras e lagartos da austeridade).

Pelo caminho ameaçam dizendo que se cairmos, não caímos sozinhos. Cai Portugal, caem os PIIGS e pode mesmo cair o Euro. Até certo ponto tem razão. Ainda não está testado o que pode acontecer se um dos países sair do Euro.

Ou seja, temos muita coisa para ir observando. Ao que parece, a Grécia só tem dinheiro para mais uns meses, quiçá até pouco antes do Verão. Sempre estão melhores do que aquilo que Sócrates nos deixou, que nem dava para pagar salários no mês a seguir. Vamos ver como correm as coisas. Mas que a "novela" parece ser animada, isso parece.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

LIGA ZON SAGRES

Tem jogos que são deprimentes de ver. E tem equipas que são autênticos crimes existirem.

E depois temos equipas que dão luta, tornam os jogos emocionantes e fazem com que uma pessoa não queira descolar da Televisão, ou do rádio, como foi o meu caso ontem.

Sejamos sérios. Equipas como a Académica, ou o Penafiel, por mais respeito que me mereçam, não merecem estar numa Primeira Liga qualquer, quanto mais na nossa. Acho que é deprimente e não incentiva ninguém a ir aos estádios ver equipas a jogar para o pontinho, sem mais nenhum objectivo. É deprimente.

Sejamos sérios. Equipas como o Rio Ave, que discutiu o jogo no Dragão (o resultado é mentiroso) e em Alvalade, equipas como o Guimarães (Rui Vitória é um belíssimo potenciador de jogadores, não é?) e outras, que tentam discutir os jogos em todo o lado são as que interessam ao futebol e são as que fazem os adeptos ir aos estádios. Mesmo os adeptos das equipas mais pequenas.

E agora mais a sério ainda. Sabemos que no nosso campeonato temos metade das equipas a fazer que fazem. Sabemos que a maior parte delas corre o risco de não pagar os salários aos jogadores e mesmo assim temos um campeonato com 18 clubes. Além de não fazer sentido nenhum (como já se viu), é indecente. Porquê? Qual é o nexo disto?

Agora imaginemos um cenário diferente. Um campeonato com Benfica, Porto, Sporting, Guimarães, Braga, Rio Ave, Estoril (que está a subir no campeonato), Marítimo, Paços e Nacional. 10 equipas. São as 10 primeiras do nosso campeonato, mas troquei o Nacional pelo Moreirense. Agora, imaginem esse campeonato a 4 voltas. Duas idas à Luz, aos Barreiros, à Choupana, à Pedreira e a Guimarães. Para não falar em mais duas idas ao Dragão, à Luz e a Alvalade. Assim, um campeonato em que todos os jogos sejam difíceis ou pelo menos que não sejam razoavelmente fáceis. A nossa competitividade seria bem maior e teriamos mais condições para que os jogadores dos nossos clubes evoluissem. 4 voltas, com 10 equipas, são apenas e só 36 jornadas. Ou seja, duas menos que os principais campeonatos europeus e mais duas que o nosso campeonato e mais seis com o nosso campeonato de 16 equipas. Mais Taça de Portugal (com todas as eliminatórias a duas mãos) e Taça da Liga (com um molde de competição similar ao da Taça de Portugal, tal como acontece em Inglaterra, e com as eliminatórias a duas mãos). Logo entre 40 a 50 jogos por ano para cada equipa. Calendário? Teríamos jogos ao Domingo e à Quarta-Feira, e os planteis deveriam ter mais jogadores da formação, uma vez que seria obrigatório (isto numa reforma a sério) adoptar os critérios da Champions para os jogadores formados no Clube. Assim nunca teríamos problemas nesse sentido.

As outras equipas teriam que ir para uma Segunda Liga. Neste caso, poder-se-ia dividir em duas zonas, a Norte e a Sul, com 14 equipas cada. A uma volta. Depois, as 7 melhores equipas de cada série jogariam outra série, a de apuramento dos promovidos, (sobem 2) e as outras 7 jogariam outra série para evitar a despromoção. Neste caso, como no Campeonato Nacional de Seniores temos 8 séries, desceriam 8 das 14 equipas. Este ponto poderá sempre ser a rever. Por exemplo, menos clubes na série de apuramento dos promovidos (com mais jogos a jogar). Do mesmo modo, seria obrigatório cumprir as regras da Champions para os jogadores formados no Clube.

E pronto. Penso que é tudo. Eu não cobro nada por esta ideia. Sei que não será bem amada pelos Presidentes dos Clubes mais pequenos. Vão dizer que é o fim dos clubes. Eu acho que será o início de um futebol mais sustentável e mais competitivo. Iria doer, iria. Mas penso que seria melhor.

sábado, 10 de janeiro de 2015

CHARLIE HEBDO

Um pouco mais distante do acontecimento que marcou a semana mundial que ocorreu em Paris, penso conseguir ter uma opinião menos acalorada sobre o que de facto se passou.

É óbvio que este acontecimento não é, de todo, um caso isolado. É um acontecimento que vem na sequência de muitos outros. Todos eles, isoladamente, podem ser vistos como inocentes. Contudo, se todos somados, pode começar a pensar-se numa bola de neve que pode vir a ter proporções algo graves.

É óbvio que o que os atacantes querem é que se sinta medo. E daí atacaram, sem dó, os seus principais críticos. E sem aviso. E no centro do multiculturalismo. França é o centro do multiculturalismo, onde a religião islâmica tem uma presença significativa.

Todos sabemos que a revista em causa era um "bastião" da liberdade de expressão. Criticava tudo o que entendia criticar, de forma mordaz, através de caricaturas, ao abrigo de algo que definiam como "liberdade de expressão". E daí, criticavam tudo. Criticaram, também Maomé. Ora, para os islamitas, Maomé é uma peça sagrada na sua religião, o que faz com que tenham criticado uma personagem que lhes diz muito.

Até aqui nada de novo. Qualquer um poderia dizer que, se se criticasse Jesus Cristo, não seria provável que acontecesse algo de similar. Pois não. Mas estamos a esquecer algo que é importante. O meio onde se insere o Islão. Meio pobre e ditatorial, propício a que apareçam interpretações mais extremistas do Corão, o que pode levar a atitudes extremas, como estas, ao contrário do cristianismo. Por outro lado, nos meios menos extremistas, não existe vontade em combater estes extremismos. Aliás, o mundo depende do equilíbrio que foi sendo feito, no sentido de evitar uma guerra fracticida no Médio Oriente. Deste modo, propagou-se fortemente uma interpretação mais extrema do Corão, que começa a ganhar força à medida que organizações como o "Estado Islâmico" ganham força.

A minha professora de Filosofia, numa das primeiras aulas, disse uma frase que me marcou daí em diante e que me irá marcar na minha vida. "A minha liberdade acaba onde começa a liberdade do outro". Ora, os Islamitas poderão sempre argumentar que, se ao abrigo da liberdade de expressão, tiveram a liberdade de criticar algo que lhes é muito querido, eles também poderiam ter a liberdade de atacar esses críticos, ainda que eles tivessem a melhor das intenções.

Por outro lado, convém não esquecermos a História. Em 1436 (que é a correspondência do "nosso" 2015 para a era muçulmana), tínhamos acabado de matar muita gente pela conquista de Ceuta, que aliás, não rendeu assim grande coisa. Estávamos a pensar em progredir Africa abaixo, e a matar muita gente, quer pela fé, quer pelo domínio económico. Pelo que não podemos esquecer que os Muçulmanos ainda têm o mesmo problema. Foi a mesma Igreja Católica que, em nome da fé, negou o conhecimento científico produzido por Galileu. É esta interpretação do Corão que faz com que muitos matem para divulgar a fé, impondo-a, como nós também fizemos no passado, ao resto do Mundo.

Estamos então face a um dilema que é preciso equilibrar. O da liberdade. Afinal o mais difícil de satisfazer, porque há sempre gente que é atingida. Soluções? Não tenho. E não deve haver. Pelo menos das que sejam lógicas e não-ditatoriais. Agora, o que é certo é que, depois desta euforia do "somos todos Charlie" vai haver muita gente que vai deixar de o ser (na atitude, claro!) porque vai ter medo pela própria vida.

Deixo para o fim aquilo que me parece mais grave e que não vi ser discutido nas Televisões. O que fazer para evitar estes casos em Portugal. Este ataque não foi um ataque voluntarioso, ao estilo dos bombistas suicidas tradicionais. Este foi um ataque militar, com todas as técnicas, antes, durante e depois (principalmente este depois), inerentes a um ataque militar. Não nos podemos esquecer dos campos de treino, que são cada vez melhores, que são criados por aqueles lados. A maior parte até financiados por países do primeiro mundo, como os EUA ou a Rússia, no sentido de proteger os seus interesses, o que parece que lhes pode sair mais caro um dia destes. O que será que se pode fazer em Portugal para que isto não aconteça? Que medidas se deverão tomar para não incentivar este tipo de coisas? E se acontecer, que medidas deverão ser tomadas? Não vi nada disso discutido. Pelo contrário, notícias de longos minutos na descrição do que se passou aos olhos de cidadãos que viram da esquerda, da direita, a 100 metros, do fundo da rua. Isto não interessa. Mais uma vez, em Portugal, perdeu-se uma boa oportunidade para discutir o que de facto interessa. É para isso que queremos a RTP?

quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

2014: BALANÇO

2014 foi um ano extremamente agitado. Não sei o que diziam os astros, mas foi um ano cheio de coisas irrepetíveis, para mais tarde recordar.

Foi o ano de tudo. Ex-ministros que foram condenados (e um até preso), um ex-primeiro-ministro que foi indiciado de um crime de corrupção (se o enriquecimento ilícito tivesse sido aprovado era um instantinho...) e algumas das mais altas figuras da administração do Estado que foram de cana. Como consequência, um ministro demitiu-se. Foi o ano do caos na Justiça (só em parte, não no todo - o Citius não é uma plataforma para todos os processos, só de uma determinada área), uma nova reforma que começou mal, mas que pode ser interessante, do caos no concurso dos professores (para quando são as escolas que se gerem e escolhem quem entendem para dar aulas, em vez de um concurso que é demasiadamente burocrático e um erro deita tudo a perder?) e dos seus pedidos de desculpa. Foi o ano da reforma do IRS e da Fiscalidade Verde. Foi o ano do Ébola e da Legionella, da Guerra na Ucrânia, e da crise, eterna, na Faixa de Gaza. Foi o ano do Mundial que correu mal e que a culpa foi da equipa médica (e depois, finalmente, do seleccionador, claro!), do Benfica ter ganho tudo em Portugal (e sim, com justiça!), das primárias do PS (algo inovador e extremamente interessante!), da resolução do BES (bastaria estudar o grupo que isso era previsível, mas os nossos media continuam na mesma e foram "surpreendidos" - ah!, e corajoso quem deixou cair o grupo!). Da saída de Alberto João Jardim do PSD-Madeira (parece que vai para deputado!) e das greves na TAP (cada vez mais me dão razão para privatizar a TAP!). E, claro, da eleição do cante alentejano como Património Imaterial da Humanidade. Enfim, tanta coisa para mais tarde recordar.

Foi o ano da morte, não de Ricardo Reis, mas de Eusébio e Mário Coluna, Joe Cocker, Ariel Sharon, Claudio Abbado e Gerard Mortier, Soares Carneiro (o Candidato de Sá Carneiro a PR, que perdeu contra Eanes), Luis Aragonés, da Duquesa de Alba (que já devia uns anos ao túmulo), D. José Policarpo, Medeiros Ferreira, Gabriel Garcia Marquez, Tito Vilanova, Veiga Simão, Rodrigo Menezes, e de mais uns quantos (que o Público tão bem exemplifica). Da crise do Meco, da vitória de Rui Costa na Volta a Suiça e da saída da troika de Portugal (e depois o BES caiu). Foi um ano com coisas boas e más. como todos os outros.

Para mim foi mais um ano. Arranjei finalmente emprego (estou na contabilidade do Instituto de Medicina Molecular), acabei piano (e finalmente o curso do Conservatório!), fiz uma marcha, dois arranjos e dei aulas pela primeira vez na minha vida (foi extremamente gratificante!). O emprego fez-me sacrificar algumas coisas que concluí que também não quero perder (nem de perto nem de longe!) e as bandas e tocar com os meus amigos continuam a ser os meus maiores prazeres. Descobri um prazer maior, a composição (é uma das minhas áreas de eleição, só tenho de aprender mais um bocado da coisa) e decidi que quero ir tentando explorar ao máximo essa área, na medida das minhas possibilidades. Foi um ano em que descobri que não vale a pena lutar contra o destino - ele está traçado e lutar contra ele não traz nada de excepcional, bem pelo contrário. Foi o ano em que me apaixonei e me desapaixonei (c'est la vie...) e que, menos mal, consegui ir mantendo algumas das minhas capacidades a tocar clarinete, um dos grandes prazeres da minha vida. O ano em que fiz mais viagens Vila Real-Lisboa-Vila Real e que descobri que 5 horas de autocarro não são nada, ou são uma tortura, conforme se vá para onde se gosta ou para onde não se gosta de estar. Sim, Lisboa é o centro do mundo português, mas eu continuo a preferir Vila Real, de longe. O ano em que deixei de dar catequese (a vida em Lisboa e das bandas não dava para conciliar tudo...).

E que venha 2015. E Deus queira que seja melhor que 2014. Mesmo que à partida possa não parecer.